segunda-feira, 6 de junho de 2011

Em favor da ignorância

Às vezes alguns setores do Poder Público agem em desfavor da coisa certa, sem que tenhamos conhecimento do que se passa por detrás do fato. É o caso agora, quando o Ministério da Educação age em favor da ignorância, coonestando uma situação de clara desaprendizagem dos alunos da escola fundamental.
            O livro didático Por uma Vida Melhor destinado a esses alunos, pago e distribuído pelo Ministério, ensina que é certo falar errado. Heloisa Ramos, uma de suas autoras, considera que é "preconceito lingüístico" censurar uma fala errada, porque falar errado nada mais é do que uma das diversas maneiras que as pessoas têm de expressão.
Diz um trecho do livro: "Você pode estar se perguntando: Mas eu posso falar ‘os livro'? Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de preconceito lingüístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião".
A expressão "preconceito lingüístico" foi criada na década de 90 pelo professor Marcos Bagno, da Universidade de Brasília, para denotar o menosprezo da norma variante – eu diria da norma incorreta – pela norma culta. Em todos os idiomas há variações do seu uso, mas é algo diferente de se usar a norma correta para ensinar a falar "nós vai" ou "nós foi", por exemplo. Esta forma de falar não é variação do uso da língua e sim ignorância gramatical, é falar errado mesmo.
A autora do livro diz que não existe problema algum em se formar frases com erros de concordância, pois isto significa uma "variação popular" da língua. A utilização, por exemplo, da primeira pessoa do plural com o verbo na terceira pessoa do singular ou vice versa, do tipo "nós gosta" ou "os bicho pega" não pode até mesmo com muita boa vontade significar uma variante lingüística popular.
A questão não está no falar errado, pois quem mesmo assim fala se faz entender. A questão está na tolice de se dizer que a língua culta é instrumento da classe dominante e que, por isso, a variante popular é também correta. Santo Deus! Isto é deseducação pura, é matar a língua portuguesa.
Nunca é visto se escrever trabalho escolar ou científico com o internetês, isto é, com a linguagem utilizada em celulares ou na internet. Mas, se realmente for correto falar certo tanto quanto errado, não haverá mais necessidade de escolas e o professor é bicho do passado, extinto por uma explosão de ignorância.
Quando fazia o curso ginasial doíam-me os ouvidos quando ouvia alguém pronunciar uma palavra errada ou cometer erro de concordância. Luiz Gonzaga, porém, no seu baião, quando cantava "nós era sete, fumos morrendo, só fiquemo eu", não me deixava irritado, pois esse linguajar era a do sertanejo das brenhas, errado, mas compreensível e não uma variação popular correta da língua. O que ocorre mesmo é que o preconceito existe, não o linguístico, mas o social, pelo falante ser apenas nordestino. Isto sim, é que tem que acabar.

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